Fundação Palmares reconhece Baixa da Xanda como primeiro quilombo de Parintins
Em um marco significativo para o movimento negro e a rica história de Parintins, a Fundação Cultural Palmares concedeu o reconhecimento oficial à Baixa da Xanda como comunidade remanescente de quilombo, tornando-a o primeiro quilombo do município. A certificação de autodefinição foi publicada no Diário Oficial da União nesta sexta-feira (6).
Este reconhecimento vai além da identidade, validando a trajetória de resistência, ancestralidade e a inestimável contribuição cultural da comunidade, que remonta ao final do século XIX. O Boi Garantido, nascido no coração da Baixa, emerge hoje como o principal elo afetivo e cultural desse território.
Dona Maria do Carmo Monteverde, de 87 anos, matriarca da comunidade e mestra dos saberes culturais do Amazonas, compartilha que o processo de aquilombamento da Baixa teve início com sua bisavó, Dona Germana. Nascida escravizada, Germana se estabeleceu na região após a abolição, carregando no corpo as marcas da escravidão, como as iniciais ferradas e as cicatrizes de chicote, conforme relatos dos mais velhos.
Alexandrina, conhecida como Dona Xanda, filha de Germana e mãe de Lindolfo Monteverde (criador do Boi Garantido), herdou as terras e permitiu que povos de diversas origens estabelecessem suas roças e moradias, dando origem à comunidade.
A união de povos negros, indígenas e ribeirinhos de distintas regiões da Amazônia permitiu a formação de laços comunitários sólidos, transformando a Baixa em uma próspera comunidade de pescadores. O local tornou-se um vital porto de chegada e ponto de encontro para migrantes ribeirinhos, além de lar para a classe operária de Parintins. A Baixa da Xanda é, inegavelmente, o berço de um dos maiores símbolos da cultura popular brasileira: o Boi Garantido, fundado em 1913 por Lindolfo Monteverde, filho de Dona Xanda, e a mais expressiva manifestação cultural da localidade.
Além do icônico Boi Garantido e de outros folguedos juninos, a comunidade preserva tradições que mesclam o catolicismo popular, a religiosidade afro-amazônica, a pajelança indígena e saberes de cura, como as rezadeiras. São Benedito e São José Operário foram os primeiros padroeiros escolhidos para a igreja local, nomes que hoje batizam os bairros de São Benedito e São José, na região da Baixa da Xanda.

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